Mudança de cultura e aplicativos de entrega pressionam setor de construção civil no Brasil
Brasil tem taxa de desemprego de 7%, mas déficit técnico limita avanço do setor e pressiona custos da construção

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego atual é de 7%, um número considerado alto se comparado à média mundial de 5%, divulgada pela Organização Mundial do Trabalho. Ainda assim, o índice brasileiro é menor do que o registrado em outros países latino-americanos, como Argentina (7,9%) e Chile (8,8%).

Porém, a percepção geral é que, apesar das vagas, as empresas estão enfrentando uma escassez de mão de obra qualificada. Uma pesquisa da FGV IBRE confirma esse cenário: 60,4% das empresas da construção civil relatam dificuldades para encontrar profissionais capacitados. Para Hailton Liberatore, sócio-diretor na Libercon Engenharia, a maior mudança foi no pós- pandemia, com maior ênfase nos últimos dois anos. O executivo classifica que a maior parte da falta dessa mão de obra está no que ele classifica como "direta”, que são carpinteiros, pedreiros e marceneiros.
"Isso não é um problema passageiro, é um problema estrutural. O mercado vai ter que se adaptar com tecnologias, programas e assim por diante, tudo para tentar vencer isso", explica.
Construção Civil vs. Aplicativos
Porém uma das maiores percepções de Liberatore foi que esse problema está sendo cultural, os novos talentos não estão mais se interessando pelo trabalho na construção civil.
"O filho do pedreiro ou o filho do carpinteiro não quer mais ser pedreiro ou carpinteiro, então há uma questão cultural. Não é um movimento de mão de obra para outros setores, mas é algo cultural. [...] A mão de obra se perdeu para Uber, logística, entregas, motoboys e assim por diante”, conta o executivo.
Essa perspectiva vai de encontro também com os dados da FGV IBRE. A pesquisa revelou que 54% dos entregadores e 58% dos motoristas de aplicativo exercem suas funções como única atividade remunerada e apenas 11% dos entregadores e 18% dos motoristas estão procurando um emprego fixo para substituir seus trabalhos nas plataformas.
Impactos
Essa falta de mão de obra também tem impacto direto no INCC-M (Índice Nacional de Custo da Construção, da FGV), cujo acumulado em 12 meses alcançou 7,17%.
"Esse problema já vem trazendo problemas reais, como o custo, pois isso faz com que você pague mais caro pela mão de obra, e o prazo. O mercado está sofrendo para atender o prazo, não só no segmento de logística, residencial, comercial e a construção como um todo", comenta.
Cy.Log Embu, ativo que faz parte do portfólio de incorporação da Libercon
Soluções
Os dados da FGV mostram que as empresas estão precisando investir para contornar o problema, 43,1% das empresas que estão sofrendo com essa escassez afirmam estar investindo em capacitação interna para atrair e reter talentos. Também é revelado que 28,1% das companhias estão oferecendo mais benefícios, enquanto 27,1% optam por realocar colaboradores. Apenas 18,1% estão recorrendo ao aumento salarial como solução.
"Nós criamos um comitê de crise que é formado por profissionais multidisciplinares e criamos programas de indicação de funcionários, podendo até premiar eles de alguma maneira. Realizamos parcerias com sindicatos, escolas profissionalizantes, CAT e agências de empregos, além de começamos a verticalizar e criar equipes próprias. Mesmo oferecendo melhores benefícios e salários, ainda há problema para contratar. É necessário ser criativo”, conta o sócio- diretor da Libercon Engenharia.