Na era da IA, como ficam os imóveis comerciais?
O que podemos esperar para o futuro do mercado imobiliário comercial com as novas tecnologias?

ChatGPT, Gemini, NotebookLM... em poucos anos, inteligências artificiais que escrevem relatórios, analisam dados, produzem imagens hiper-realistas e até músicas deixaram de ser tendência para se tornar parte do dia a dia das empresas. Mas e o mercado imobiliário comercial, um dos setores mais tradicionais da economia - como será impactado por essa transformação?
Para Daniel Grossi, cofundador da Liga Venture, a resposta está na própria essência do setor. "O mercado imobiliário sempre foi orientado a dados - desde o crédito até a escolha de pontos e a otimização de espaços, o que o torna terreno fértil para a IA. De 2022 para cá, vimos um crescimento expressivo de startups nativas de inteligência artificial, que nasceram com essa tecnologia no core, além de empresas tradicionais que já tinham grandes volumes de dados e passaram a adotar soluções. Isso tem atraído novas rodadas de investimento para o setor." Grossi lembra, no entanto, que o setor demorou mais que outros a se digitalizar, mas que o cenário começou a mudar nos últimos anos. "A digitalização se limitava inicialmente a plataformas de anúncios [residenciais], quase uma transposição dos classificados. Hoje, abrange toda a jornada - do financiamento à geração de leads. A inteligência artificial, especialmente a generativa, tende a ser mais acessível, simples e barata. Mais do que uma barreira técnica, a lentidão vinha de uma acomodação do mercado, que agora mostra sinais claros de mudança."
As aplicações práticas já são diversas, segundo ele: "Vão desde análise de crédito e manutenção preditiva integrada a loT, até previsão de demanda, análise de viabilidade, precificação de terrenos e imóveis, escolha de pontos comerciais e personalização da jornada do cliente. Também vemos IA sendo usada em atendimento e geração de leads, o que pressiona a competitividade entre players do setor."
Essa última frente é justamente o foco da Lastro, startup que criou a Lais Al, uma assistente virtual para atendimento via WhatsApp. O cofundador José Thomaz Pereira explica: "Quando o lead entra, geralmente só temos nome e telefone. Não sabemos se está pronto para fechar negócio ou apenas buscando informações iniciais. A Lais surgiu para ser esse 'funcionário digital', capaz de fazer o primeiro atendimento 24/7, de forma instantânea e indistinguível de um humano."
José Thomaz Pereira, Cofundador da Lastro (à esquerda) e Allan Paladino CEO e Cofundador da Lastro.
Para Pereira, essa é apenas a primeira fase de um processo muito maior. "Praticamente todos os processos que envolvem dados desestruturados que precisam ser organizados e compilados serão transformados pela IA. Isso vai desde o atendimento inicial até o processamento de dados e a criação de renderizações de empreendimentos. Mas isso não significa que o ser humano vai sair da jogada, apenas que a IA poderá assumir tarefas repetitivas, potencializando o trabalho do corretor. Daqui a cinco anos, todas as transações imobiliárias terão IA em alguma etapa."
A busca por eficiência também motivou a criação da Sophia Al, desenvolvida por Sophia Martins. A ideia nasceu de uma dor pessoal com experiências ruins como cliente no mercado de corretagem. "No setor convivem várias gerações, e principalmente os profissionais mais antigos ainda se assustam com a tecnologia. Por isso, quis desenvolver algo mais 'friendly', que não fosse intimidador, mas mostrasse como o corretor pode alcançar mais desempenho e otimizar seu tempo com auxílio da ferramenta."
Sophia Martins, criadora da Sophia Al
Para aumentar a credibilidade do sistema, Sophia integrou a IA a mais de 20 bases oficiais, como Banco Central, IBGE e FGV. "Eu não abri para nenhum tipo de patrocínio. A plataforma entrega dados numéricos e não indicações enviesadas”, afirma. Hoje, a Sophia Al já acumula mais de 35 milhões de acessos. "Tenho um case em Cingapura, onde já se utiliza inteligência artificial em toda a jornada, desde o desenvolvimento do produto até o consumo pelo cliente final. Os ganhos de eficiência são enormes. Para se ter uma ideia, em termos de produtividade na construção civil, dois brasileiros e meio equivalem a apenas um singapuriano - graças ao uso intensivo de tecnologia e otimização do tempo."