Fábricas e logística: os planos de expansão das montadoras chinesas já estão se concretizando
Com fábricas em antigas instalações da Ford e Mercedes, montadoras chinesas desafiam as gigantes, ampliam sua presença logística e prometem uma nova era para o setor automotivo nacional

O Brasil está se tornando um polo tecnológico para veículos elétricos, principalmente após a chegada de grandes montadoras chinesas no país. A primeira fase delas foi importar grandes quantidades de carros para o país, agora, com um mercado mais popularizado e consolidado, elas estão investindo em fábricas para realizar a manufatura e montagem dos veículos.
Uma das principais estratégias das companhias é ocupar espaços que antes eram de montadoras tradicionais, como é o caso da Great Wall Motor (GWM) que está adaptando um centro fabril em Iracemápolis, interior de São Paulo, que antes era operado pela alemã Mercedes-Benz.
A eletrificação se tornou uma necessidade global, temas voltados a ecologia, economia e recuperação do meio ambiente, acelerou a eletrificação não apenas sob um capô e quatro rodas, como também em motos, bicicletas e, até mesmo, aeronaves.
A BYD, uma das primeiras a se popularizar no país, recentemente inaugurou sua fábrica em Camaçari, na Bahia. Sob o acrônimo de "construindo seus sonhos" (Build Your Dreams, em inglês), a companhia aposta na classe média e alto padrão para se manter relevante.

Polêmica
Por possuir preços competitivos e o apelo popular, as montadoras chinesas também são alvo de boicotes pelas empresas tradicionais. Sob a alegação de dumping - prática comercial no qual empresas vendem seus produtos abaixo dos valores de custo para eliminar a concorrência – a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), representando as tradicionais do setor, acusou formalmente a BYD e a GWM dessa prática.
Em janeiro, o então presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, afirmou em nota que a entidade defende a livre concorrência, mas o processo é uma forma de prevenir que as práticas prejudiquem o mercado automotivo brasileiro.
O próprio CEO da Ford, Jim Farley, afirmou na conferência Aspen, em junho, que eles estão em uma guerra por sobrevivência. Inclusive, a fábrica da BYD era da Ford.
"Estamos em uma competição global com a China [...] Não é só sobre veículos elétricos. E se perdermos essa disputa, não teremos futuro na Ford", afirmou Farley.
Logística
Assim como a BYD, a GWM está firmando parcerias para realizar sua operação logística. Enquanto a empresa ainda não conclui sua fábrica, a montadora está importando veículos via navio que atraca de tempos em tempos no Espirito Santo, firmando uma parceria com o governo local, que busca ampliar seu mercado de condomínios logísticos, que hoje conta com 554 mil m² e zero vacância.
"Nosso compromisso é com o desenvolvimento regional e a construção de uma operação sólida e sustentável no país. O Espírito Santo já é um parceiro estratégico em nossa logística atual e pode ganhar ainda mais relevância à medida que avançamos em direção à produção local e à exportação", afirma Andy Zhang, presidente da GWM Brasil & México, em uma reunião com o Governador do Espírito Santo no começo de julho.
Já a queridinha entre os populares, BYD, está em um processo de investimento de R$ 5,5 bilhões em sua fábrica baiana. A ideia da companhia não é apenas fabricar os veículos para o mercado interno, mas também transformar a cidade baiana de 300 mil habitantes em uma plataforma de exportação para o resto da América e um centro logístico para a montadora. Hoje o cenário de Camaçari ainda é pequeno, são 54 mil m², mas vai receber um grande complexo logístico em 2030, sendo mais 227 mil m2 para a região.
Além das duas, a Geely, dona da Volvo Cars, também está importando veículos. Dessa maneira, as montadoras vão ocupando espaços em grandes cidades, fazendo parcerias político-privadas para o investimento de infraestrutura e ganhando espaço no coração dos brasileiros.