George Vidor vê cenário positivo para economia brasileira em 2023
Consagrado jornalista e comentarista destaca alicerces implementados no último governo que farão a diferença no crescimento do país nos próximos anos

Ele é famoso jornalista de Economia da grande imprensa nacional e também tem a charmosa imagem com uma gravata borboleta gravada em nossa memória após anos de participação no noticiário da Globonews como comentarista.
George Vidor nos deu a honra de uma participação na cobertura Clube FII News de fim de ano.
Falando à vontade de sua casa no Rio de Janeiro, ele estava sem a tradicional gravata, mas com a capacidade de análise afiada como sempre. Nenhuma pergunta foi combinada previamente, exceto o tema da entrevista: perspectivas para 2023 na Economia brasileira.
Acompanhe a visão de Vidor sobre o país, os alicerces preparados para o crescimento brasileiro neste novo ano e como o especialista projeta o futuro dos mercados imobiliários e de FIIs.
Clube FII News: Quais são as perspectivas para 2023? A gente pode ter um ano um pouco melhor ou pior do que 2022?
George Vidor: Eu estou fazendo aqui um ‘introitozinho’ e tenho lido muito sobre o bicentenário da independência brasileira e vejo como a gente vem desde D. Pedro com uma política sempre confusa no Brasil. Isso acaba, de certa forma, influenciando o nosso jogo.
Estes últimos anos, principalmente 2022, foram marcados pela questão política, com uma disputa eleitoral acirrada de placar apertado e a sociedade muito dividida, o que de alguma maneira tem se refletido nas expectativas dos mercados em relação ao ano que vem.
Eu sou mais otimista do que a média pela seguinte razão: é claro que a política tem um peso muito grande no que vai acontecer e é assim no mundo inteiro. A política influencia a economia que influencia a política. Mas, independentemente, eu acho que o Brasil tem vetores de crescimento muito positivos que podem impulsionar a gente já no ano que vem.
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No saneamento básico, tivermos algumas concessões e estes investimentos estão sendo contratados. Efetivamente, eles vão acontecer. Hoje, há uma demanda de mão de obra, material, engenharia e por serviço. Não vai depender do próximo governo e do próximo ministro. Já está em andamento.
Na infraestrutura, nós tivemos mudanças importantes com as ferrovias. Há duas ferrovias no Brasil já em construção ou em fase de projeto. Uma no Centro-oeste construída pela Vale em troca da renovação das ferrovias Vitória-Minas com um trecho de mais de 300 quilômetros em uma área importantíssima para o agronegócio brasileiro que impulsiona a economia fortemente. A outra ferrovia contratada no Mato Grosso pela Rumo vai subir até Cuiabá e até o norte do estado, o que vai reduzir muito o custo de produção. Não é uma ideia. É real.
No setor de energia, há muita coisa para maturar na parte de energia renovável: eólica, solar e também a biomassa.
Na energia mais tradicional que são os setores de óleo e gás, o Brasil exporta um milhão de barris por dia e vai continuar crescendo. Daqui a 30 anos, talvez o petróleo não tenha o mesmo papel que tem hoje. Mas nos próximos 10, certamente, vai continuar tendo um papel enorme.
São investimentos que já estão contratados e vão acontecer e gerar uma demanda por serviços aqui no Brasil. Demanda também na construção naval.
E uma novidade boa é o aumento da produção nacional de gás natural. Há uma rota 3 que vai ter início, provavelmente, no final do ano que vem, talvez no começo de 2024.
Em função do aumento da oferta de gás – são 28 milhões de metros cúbicos por dia, muito mais do que a gente importa hoje da Bolívia – a rota vai gerar milhões de oportunidades para o setor industrial e, talvez, barateie o gás.
George Vidor detalha as condições criadas no último governo que farão a diferença no crescimento da Economia do país nos próximos anos (Foto: Divulgação - arquivo pessoal)
No agronegócio, a gente prevê para 2023 uma safra de mais de 300 milhões de toneladas de grãos. O Brasil nunca produziu isso e será destaque no milho, arroz, soja naturalmente e no algodão. O Brasil, possivelmente, vai se tornar o maior exportador de algodão no ano que vem. A gente vai passar os Estados Unidos como exportador de algodão. Somos o quarto produtor do mundo, mas, possivelmente, seremos o primeiro.
Passei minha vida vendo um esforço para a gente produzir trigo. Era um trigo considerado de baixa qualidade e o país dependia muito da importação da Argentina, dos EUA, do Canadá e até da Europa. E, agora, a gente está exportando trigo porque é um tipo muito consumido na África. Esse ano, o Rio Grande do Sul talvez produza 5 milhões de toneladas de trigo. Era o que o Brasil consumia na época em que comecei na área de economia.
A gente produz azeite e vinho em todo o país!
Então, há muitos vetores capazes de impulsionar a economia no ano que vem. Portanto, eu não acho que isso vai gerar um crescimento de apenas 0,5%. Obviamente, esse crescimento será maior se a gente tiver uma redução na taxa de juros ao longo do ano. Para essa redução acontecer, o Banco Central tem que se sentir seguro de que a inflação está, realmente, sob controle, cedendo, e se aproximando mais do centro da meta. Para isso, vai depender muito do que o governo vai fazer na área de gastos públicos.
CFN: Esse é um ponto que eu quero tocar com você, Vidor. Não sei se você concorda, mas embora tão divergentes o atual governo e o próximo, há um ponto em comum que é o desrespeito ao teto de gastos. O governo atual começou a desrespeitar o teto e fazer a mobilização política para isso no encerramento de 2021 e o próximo governo já está mexendo tudo para conseguir custear os benefícios furando o teto de gastos. Quero saber de você, quando vem o custo disso e para quem?
GV: É claro que esse é um fator de perturbação muito grande porque o teto de gastos - criado no governo Temer - foi fundamental para a gente começar a colocar as contas públicas em ordem. Claro que, naquele momento, esse teto de gastos foi discutido em um mês em que se estabeleceu uma regra para corrigir os gastos pela inflação e só. Mas, mesmo naquele momento, se percebeu que talvez essa regra pudesse ter que ser reavaliada porque há gastos que estão completamente fora do controle do governo.
Um exemplo é o dos gastos da Previdência que entram no conjunto dos gastos públicos.
Mesmo que o governo quisesse, não consegue dominar, controlar a trajetória dos gastos. Até se projetava na época que – se não fizessem a reforma que é mérito do atual governo – ia chegar uma hora em que os gastos da Previdência chegarariam a 80% do total dos gastos da União, o que tornava tudo inviável. Então, previu-se naquele momento que, em 2026, haveria uma revisão.
Mas já durante o governo Bolsonaro, o ministro Paulo Guedes percebeu que estava muito amarrado e ia precisar fazer uma revisão sem abandonar a ideia da âncora fiscal. Simplesmente, aquelas regras como estavam já não eram suficientes para acomodar o conjunto das despesas. E a gente fez várias durante a pandemia, uma PEC - Proposta de Emenda à Constituição - para liberar e tal.
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Mas, seja como for, a gente vai chegar ao final deste governo com o nível da dívida pública no mesmo patamar do que eles encontraram no início de 2019. Também mérito da equipe de Paulo Guedes - mesmo com toda a confusão de pandemia, guerra na Ucrânia e etc – ter mantido as contas públicas sob um certo controle.
No próximo governo, o ideal seria que a gente conseguisse procurar um caminho semelhante flexibilizando o teto dentro do que fosse possível. Como está era impossível.
Digamos que o governo Bolsonaro continuasse. Ele teria também que mudar essa regra. Teria que fazer uma PEC para acomodar os gastos que estavam previstos. Você vê que eles estão com muita dificuldade de fechar as contas agora em 2022. Estão fazendo um corta lá, corta aqui, tira do dinheiro da universidade, da farmácia e não estão conseguindo. Precisariam de algum ajuste para se manter dentro do teto de gastos.
Eu vejo a outra PEC [do governo Lula] no sentido de que o governo novo quer começar sem esse sufoco, tendo alguma margem de manobra. Mas eles já perceberam que não podem fazer como o governo Dilma que saiu chutando a bola de qualquer maneira. Não podem por vários fatores. O primeiro é que a regra do teto de gastos continua a existir e os demais gastos estarão dentro dessa regra. Segundo é que a gente tem um Banco Central independente com o atual presidente que vai continuar no mandato por dois anos. O governo Lula goste dele ou não. Um BC independente para tomar as decisões que precisarão ser tomadas.
Se o governo não se comportar bem na área fiscal, o BC não vai baixar a taxa básica de juros e pode ser até que suba. Ao subir a taxa de juros, ele vai segurar o crescimento, novos investimentos e o consumo que é exatamente um incentivo à economia na visão do presidente Lula. Então, o que o governo quer hoje é baixar a taxa de juros e não vai conseguir se não fizer o dever de casa.
A íntegra da conversa com George Vidor sobre economia brasileira e os mercados imobiliário e de Fundos Imobiliários você acompanha no vídeo destacado nesta matéria e também no canal do Clube FII no Youtube.