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    Criação de empregos é desafio imediato do presidente eleito, afirma Levy

    Ex-ministro da Fazenda com passagens pelo FMI, Banco Mundial e BID, Joaquim Levy falou ao Clube FII News sobre a economia do país, cenário global e o futuro do mercado de Fundos Imobiliários

    Por Luciene Miranda
    segunda-feira, 31 de outubro de 2022 Atualizado

    Joaquim Levy abriu o Fórum GRI 2022, maior evento de Fundos Imobiliários do país realizado em São Paulo na semana passada, falando dos desafios nas economias brasileira e global mas, principalmente, sobre o que está reservado ao presidente da república eleito neste domingo (30). 

     

    A uma plateia com mais de 500 gestores, administradores e distribuidores dos chamados FIIs, o atual diretor de Estratégia Econômica do Banco Safra, ex-ministro da Fazenda do governo Dilma Rousseff com passagens pelo Banco Mundial, FMI (Fundo Monetário Internacional) e BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), avisou sobre as prioridades necessárias ao candidato escolhido pela população na tarefa de retomar o crescimento do país após o impacto da pandemia.

     

    Criação de empregos é desafio imediato do presidente eleito, afirma Levy
    Joaquim Levy, ex-ministro da Fazenda com passagens pelo FMI, BID e Banco Mundial, atualmente é diretor de Estratégia Econômica e Relações com o Mercado no Banco Safra (Foto: Divulgação - Banco Safra)

     

    Ainda sem saber do resultado das eleições, Levy foi enfático ao defender a conduta essencial na transição - ou continuidade - de governo com vistas à solução dos grandes problemas nacionais: muita disposição para a conversa e a conciliação.

     

    Acompanhe a entrevista que Joaquim Levy concedeu ao Clube FII News.

     

     

    Clube FII News (CFN): Qual o principal desafio para o próximo presidente?

     

    Joaquim Levy (JL): O desafio sempre é criar novos empregos e fazer a economia crescer. Para isso, é necessário resolver alguns problemas imediatos. O primeiro deles é no lado fiscal e dos gastos do governo que foram se acumulando. Quem entrar agora depois da eleição vai ter que equacionar ouvindo as diferentes partes - inclusive o mercado - para trazer tranquilidade e continuar ajudando a inflação a cair e, com isso, criar um ambiente favorável ao investimento e à criação de empregos para as pessoas poderem melhorar de vida.

     

     

    CFN: Para os outros países, quais são os desafios pós-pandemia?

     

    JL: O mundo está com bastante turbulência e as expectativas vão crescendo. Cada país tem que encontrar uma gestão macroeconômica que permita diminuir inflação e aumentar emprego e crescimento. Varia de país para país. Alguns têm uma tradição mais estabelecida e outros enfrentam desafios mais ou menos difíceis de uma maneira mais frequente. No geral, também exigem um grau de conversa e conciliação para poderem vencer obstáculos.

     

     

    CFN: A guerra na Ucrânia se prolonga. Qual pode ser o impacto deste conflito na economia global no longo prazo?

     

    JL: No longo prazo, se não houver uma escalada que leve a uma perda de controle, acho que os impactos não serão tão grandes. Podem até ser positivos porque estão forçando a Europa e outros lugares a repensar a questão da transição energética. É até curioso. A Rússia vivia de vender petróleo e gás e, com essa guerra, o país perdeu os principais mercados. No curto prazo, isso cria uma porção de problemas porque, de repente, aquela energia não está mais disponível. No entanto, a médio e longo prazos, pode levar a uma aceleração da transição para energias renováveis e até a uma maneira mais inteligente de usar a energia nuclear que, nos últimos trinta anos, não tem funcionado direito. Com um salto ecológico, talvez funcione.  

     

    A guerra entra em um momento complicado, mas pode acelerar a transição para combustíveis renováveis e menos poluentes de maneira que se consiga enfrentar o desafio climático de uma maneira mais firme.

     

     

    "Em médio e longo prazos, [a guerra na Ucrânia] pode levar a uma aceleração da transição para energias renováveis", afirma Levy  (Foto: Divulgação - Banco Safra)

     

    CFN: O senhor está em um evento de Fundos Imobiliários. Como vê o segmento em um contexto de mercado financeiro que atravessou a pandemia – claro, sofrendo um pouco – mas ativo de uma maneira única no Brasil?

     

    JL: O mercado imobiliário brasileiro é muito sólido e evoluído. Avançou muito desde o começo dos anos 2000, quando se criou o patrimônio de afetação* com pequenas mudanças que deram mais garantias ao comprador e mais flexibilidade à incorporadora e ao construtor. Se comparar o que é o mercado, a indústria e as empresas do setor com o que era há 20 anos, foi uma transformação radical e muito importante porque só assim será possível enfrentar o déficit de moradias. Isso tem efeito ao longo de toda a cadeia de renda.

     

    Além dos programas como foi o Minha Casa, Minha Vida que construiu muitas residências populares, à medida em que o mercado vai aumentando o estoque de boas moradias, vai também garantindo o acesso até às pessoas de menor renda. É uma melhora em escadinha para todo mundo.

     

    Também é notável que, com a pandemia, o setor soube encontrar maneiras de continuar funcionando. É óbvio que a construção civil é ao ar livre, então, é mais tranquilo, mas teve todo um trabalho de protocolos de atenção e proteção ao trabalhador que se traduziu em atravessar a pandemia com crescimento.

     

    A taxa de juros ajudou? Ajudou. Mas, se não houvesse esse trabalho de continuar funcionando com segurança, teria sido um desastre.

     

    Acho que o setor está de parabéns por ter feito isso e que a solidez está demonstrada até pelo fato de que, quando a taxa de juros começou a subir – e sobe há um ano e pouco – ainda assim a economia manteve o seu dinamismo. Isso mostra o interesse do brasileiro em investir. Inclusive, quando ele tem algum dinheiro, está pronto a dar uma entrada maior, o que facilita também o financiamento e o torna muito mais seguro.

     

    "É notável que, com a pandemia, o setor [imobiliário] soube encontrar maneiras de continuar funcionando".  (Foto: Divulgação - Banco Safra)

     

    CFN: O que o senhor acha dos instrumentos financeiros como o CRI – Certificados de Recebíveis Imobiliários - e o CRA - Certificados de Recebíveis do Agronegócio - que ajudam a financiar a indústria e o setor agro, tornando Fundos Imobiliários uma alternativa de financiamento de setores da economia?

     

    JL: Muitas vezes, ele [o instrumento] se aplica de uma maneira até melhor no financiamento imobiliário comercial ou industrial como nos galpões, e faz parte dessa riqueza do setor imobiliário. No residencial, também tem um papel para isso – às vezes, em uma reciclagem etc.

     

    Então, acho que o caminho é ter, cada vez mais, instrumentos de mercado, muitas vezes com o apoio do governo porque, no caso de um CRI, o fato dele ter isenção tributária é um enorme e importantíssimo apoio do governo. Aproveita-se toda a eficiência que o mercado de capitais pode prover, além do efeito social de se tornar uma opção de investimento para as pessoas. Isso é muito bom. Você ter um dinheiro e saber que pode investir em um desses instrumentos é muito interessante.

     

    Alguns são investimentos de longo prazo e podem ajudar a criar um patrimônio, mas têm que ser feitos com atenção. É importante ter advisors – assessores na tradução do inglês – e consultores que vão orientar nas opções de investimento. Lá no Banco Safra, a gente vê uma demanda e um interesse enormes de investidores de diversos níveis de renda. É isso que faz a riqueza e a sofisticação de uma economia e que acaba fomentando o crescimento do trabalho e do emprego em todos os setores.

     

    *Patrimônio de afetação é a separação patrimonial de bens do incorporador para uma atividade específica, com o objetivo de assegurar que um empreendimento seja concluído e as unidades entregues mesmo que a incorporadora declare falência.


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