André Bacci: riscos, tributação e como viver de FIIs
Investidor profissional discute as polêmicas da MP 1303, a volatilidade do mercado e os riscos que o cotista comum ignora

O investidor profissional e autor André Bacci, em entrevista ao Clube FII, compartilhou sua trajetória de viver de rendimentos e analisou os temas mais polêmicos do mercado de fundos imobiliários. A discussão, conduzida por Danilo Barbosa, head de Research do Clube FII, e Felipe Ribeiro, Sócio-Diretor de Investimentos Alternativos, abordou desde estratégias para lidar com a volatilidade até riscos sistêmicos que muitas vezes passam despercebidos pelo investidor de varejo. Você pode assistir o vídeo completo disponível no canal do Clube FII no YouTube clicando aqui.

Bacci, que vive de sua carteira de investimentos desde 2013, destacou que a volatilidade do mercado pode ser uma aliada. Ele explicou que a bolsa acolhe diferentes perfis, desde o investidor que não acompanha o mercado de perto e se beneficia no longo prazo, até aquele que opera ativamente, aproveitando distorções momentâneas de preço, como as que ocorrem em leilões de ativos. Para o iniciante que possui tempo, sua principal recomendação é dedicar tempo à leitura de relatórios e análises. "Consumir material especializado, material primário, vai te deixar num estágio tão lá na frente do resto de todo mundo", afirmou.
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Um dos pontos centrais da conversa foi a Medida Provisória 1303, que propõe a tributação de dividendos de FIIs. Para Bacci, a maior preocupação não é a alíquota de 5%, mas uma alteração mais profunda na legislação: a revogação do parágrafo que estabelece a obrigatoriedade de distribuição de 95% dos lucros sob regime de caixa. Se a regra mudar para o regime de competência, fundos com prejuízo contábil, como muitos Fundos de Fundos (FOFs), poderiam ficar períodos longos sem distribuir rendimentos. "FOF, se essa medida provisória passar, tchau e bênção", alertou.
O investidor também apontou outros riscos que não estão no radar da maioria. O primeiro é o de contraparte em securitizadoras, citando um caso recente de fraude que impactou diversos fundos. O segundo, e mais complexo, é a questão da responsabilidade limitada dos cotistas. Bacci explicou que, dependendo do que está escrito no regulamento, a responsabilidade pode se tornar ilimitada em situações extremas, como a liquidação de um fundo sem administrador, um cenário que ele acredita poder se concretizar em breve.
Sobre a alocação entre FIIs de tijolo e papel, Bacci destacou que, por lei, os fundos de papel tendem a ser nominalmente estáveis, pois distribuem toda a correção monetária e juros como rendimento. Por isso, para superar a inflação no longo prazo, é crucial que o investidor reinvista parte dos dividendos. Ele também abordou o cenário dos Fiagros, que amadureceu, mas expôs riscos de concentração e problemas contábeis que ficarão mais evidentes com a migração obrigatória para novas regras contábeis a partir de outubro.
Ao final, Bacci discutiu o processo de consolidação e fusões no mercado, alertando para a questão do prejuízo contábil que pode ficar "travado" no administrador, prejudicando o cotista. Ele sugeriu que, em certos casos, vender as cotas antes da fusão para realizar o prejuízo e poder compensá-lo no futuro pode ser a melhor estratégia. Para o investidor, o momento atual de mercado, apesar da percepção geral de desânimo, é uma oportunidade. "Eu reinvisto na época de baixa para aumentar o retorno e compensar um pouco as épocas de alta. É isso que eu estou fazendo agora", concluiu.