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    Mercado Imobiliário

    Protecionismo Norte-Americano deixa o mercado logístico da américa latina sob pressão

    Setores estratégicos enfrentam incertezas, adiam investimentos e desocupam galpões diante de um novo ciclo de protecionismo

    Por SiiLA
    quinta-feira, 22 de maio de 2025 Atualizado ontem

    As tarifas dos Estados Unidos não estão apenas ameaçando o comércio. Elas estão distorcendo preços, congelando investimentos e pressionando países como México, Brasil e Colômbia - cujos setores vitais voltados à exportação dependem do mercado norte-americano. E quando esses setores desaceleram, o impacto vai além das exportações: afeta a demanda por espaço, insumos, logística e empregos.


    Atualmente, cada país enfrenta regimes tarifários diferentes: o México está sujeito a uma tarifa de 25% sobre aço e alumínio, além de tarifas semelhantes sobre produtos não certificados pelo USMCA (acordo de livre comércio entre Estados Unidos, México e Canadá). Já Brasil e Colômbia enfrentam uma tarifa base de 10% sobre a maioria das exportações e 25% sobre aço e alumínio. Os efeitos já são tangíveis e seguem um padrão: começam nos setores mais expostos, atingem o espaço físico e acabam redesenhando o mapa produtivo.


    No México, por exemplo, o setor automotivo registrou absorção líquida negativa em Aguascalientes, Cidade do México, Monterrey e Reynosa no primeiro trimestre de 2025: quase 260 mil metros quadrados de espaço industrial desocupados - um dos piores começos de ano desde 2021, segundo a SiiLA.


    No Brasil, a siderúrgica ArcelorMittal adiou um investimento de R$ 4 bilhões (cerca de US$ 800 milhões) na planta de Tubarão, citando a tarifa de 25% sobre o aço como fator determinante. E na Colômbia, a empresa de alimentos Alpina anunciou uma pausa comercial de 90 dias devido ao risco de repassar a tarifa de 10% aos consumidores norte-americanos.


    Apesar desses primeiros sinais de ajuste, o comércio bilateral ainda não refletiu o impacto de forma agregada. Em termos reais, as importações dos EUA vindas de México, Brasil e Colômbia cresceram 8%, 8% e 9%, respectivamente, entre o 1o trimestre de 2024 e o de 2025. Ou seja, embora o objetivo das tarifas seja conter os fluxos comerciais, ainda não foram bem-sucedidas. No caso da política comercial, os efeitos raramente são imediatos: o verdadeiro impacto fermenta em decisões de investimento, nos custos logísticos ou na hesitação de um fornecedor que decide não expandir.

     

    Protecionismo Norte-Americano deixa o mercado logístico da américa latina sob pressão
    Donald Trump, presidente dos Estados Unidos da América

     

    México


    No México, a exposição é tanto comercial quanto territorial. Cerca de 40% do PIB do país vem das exportações, e quase um terço disso depende de setores que estão sob pressão tarifária - aço, agronegócio, bens de capital, eletrônicos e veículos e autopeças. Isso significa que ao menos 13% do PIB está diretamente exposto ao protecionismo dos EUA.


    Essa pressão se reflete não apenas nos números, mas também no setor imobiliário. Segundo a SiiLA, esses cinco setores ocupam 49,6% do estoque de condomínios logísticos locado atualmente no país — ou seja, quase metade do espaço produtivo está vulnerável a qualquer mudança nas condições comerciais.


    Brasil


    No Brasil, a exposição é menor, porém mais estratégica. Apenas 20% do PIB vem das exportações, e, dentro disso, setores industriais-chave - como aeroespacial, agronegócio, automotivo e siderúrgico – já enfrentam tarifas.


    Juntos, suas exportações para os EUA representam cerca de 2,4% do PIB. E a pressão não é só externa: é espacial. De acordo com a SiiLA, esses setores ocupam 5,8% do estoque logístico locado no país. Apesar de representar uma fatia pequena, essas operações concentram um alto valor agregado, com forte dependência externa e pouca capacidade de substituição local.


    Colômbia


    A Colômbia, por sua vez, não é exceção. Lá, a exposição – embora mais contida – também é evidente. As exportações respondem por cerca de 15% do PIB, e aproximadamente um terço disso vem de setores sensíveis a tarifas - agronegócio, floricultura, papel, petróleo, químicos básicos, aço e têxteis.


    Com base em dados oficiais e estimativas proporcionais, as exportações desses setores para os EUA equivalem a quase 1% do PIB colombiano. E, em termos espaciais, ocupam 12,3% do estoque de condomínios logísticos locado no país. Modesto, mas composto por indústrias que dependem de acesso preferencial, operam com margens apertadas e enfrentam alta exposição requlatória.

     

    Influência externa


    Apesar das diferenças de escala, México, Brasil e Colômbia compartilham uma característica crítica: parte de suas economias e infraestrutura industrial depende da manutenção de relações comerciais estáveis com os Estados Unidos. E embora essa estabilidade ainda apareça nos dados, as rachaduras já estão visíveis no terreno.


    Em termos macroeconômicos, o impacto ainda parece contido. Mas seu potencial está longe de ser desprezível. Nos três países, os setores sob pressão não apenas exportam - sustentam cadeias logísticas, empregos industriais e estoques físicos que dependem da estabilidade comercial.


    No México, o risco é ampliado pelo tamanho do mercado e seu papel no nearshoring. No Brasil, pela concentração estratégica em indústrias complexas. E na Colômbia, pela vulnerabilidade de uma base exportadora estreita e exposta.


    Além disso, o impacto não se limita à balança comercial: se os mercados imobiliários industriais no México, Brasil ou Colômbia enfrentarem uma estagnação prolongada, o arrasto pode se estender a outros componentes do PIB.


    Ainda não é considerada uma crise. Mas, caso as tensões persistirem, o que começou como um ajuste comercial pode se tornar uma reconfiguração econômica mais profunda. Quando isso acontece, o tempo perdido não se mede em trimestres, mas em ciclos.


    O que ocorrer no segundo semestre de 2025 será decisivo. As empresas precisarão reavaliar cadeias de suprimento, custos e decisões de investimento diante de um horizonte incerto. E os governos, se quiserem proteger setores estratégicos, terão que escolher entre intensificar a resposta ou buscar acordos pragmáticos. Mas, na ausência de clareza, uma coisa é certa: a política comercial voltou ao centro do jogo econômico. E, desta vez, a América Latina não está só assistindo - está no tabuleiro.


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