Em uma das maiores transações da indústria de bebidas na última década, a Keurig Dr Pepper (KDP) - dona de marcas como 7UP, Dr Pepper, Peñafiel e Snapple – anunciou a aquisição da JDE Peet's, gigante holandesa do café e chá, por €15,7 bilhões. A fusão reforça a estratégia do grupo de consolidar uma divisão global de café capaz de competir com a Nestlé, enquanto fortalece sua frente de refrigerantes na disputa com Coca-Cola e PepsiCo.

No Brasil, esse movimento ressoa de forma especial: a JDE Peet's é responsável por marcas icônicas como Pilão, Café do Ponto e Maratá, que juntas garantem à companhia 14% de sua receita mundial. Já no México, o peso direto em vendas é menor – cerca de 13% da receita internacional da KDP —, mas o país é estratégico: concentra quase um quarto da frota de distribuição da companhia para a América do Norte, abriga a tradicional Peñafiel e funciona como um verdadeiro laboratório global de testes, dado o perfil altamente competitivo do mercado de bebidas mexicano.

Com a fusão, a importância da América Latina no tabuleiro global de bebidas se torna ainda mais clara: a região fornece metade do café produzido no mundo e responde por um quarto da demanda global de refrigerantes.

Impactos no real estate

Por: Siila

O setor de alimentos e bebidas já tem peso expressivo no mercado imobiliário regional. No Brasil, representa cerca de 10,5% da ocupação logística, segundo dados da plataforma Market Analytics, da SiiLA. Desde 2019, a presença do segmento em condomínios logísticos de padrão A+, A e B cresceu 46,5%, revelando um mercado aquecido. A KDP Brazil Global Sourcing mantém um escritório administrativo em Varginha, que também funciona como hub de logística, compras e controle de qualidade.

No México, onde o setor de alimentos e bebidas representa 7% do espaço ocupado em galpões, a KDP opera três fábricas, aproximadamente 25 centros de distribuição e tem sua sede corporativa localizada na Torre Esmeralda III, um empreendimento de classe A+ localizado na região de Lomas Palmas, na Cidade do México.

Essa base já robusta tende a se expandir. Em 2024, o mercado latino-americano de bebidas carbonatadas movimentou mais de US$ 60 bilhões, enquanto o setor de café ultrapassou US$ 10 bilhões, de acordo com a consultoria Informes de Expertos. As projeções indicam crescimento contínuo até 2034, com taxas anuais de 2% para refrigerantes e 3,9% para café.

Um tabuleiro global

O protagonismo da América Latina se explica pelo duplo papel que desempenha: além de ser responsável por mais da metade da produção mundial de café verde, liderada por Brasil e Colômbia, também concentra quase 25% do consumo global de refrigerantes - com Argentina, México, Chile e Uruguai entre os mercados mais dinâmicos do planeta. Esse equilíbrio entre produção e consumo transforma a região em um eixo estratégico da indústria global de bebidas. Para a KDP, qualquer movimento regulatório, climático, competitivo ou de custos na região tem potencial de redesenhar cadeias de valor e reposicionar players no ranking global.