Investidores respondem crítica de Luiz Barsi sobre FIIs
O Clube FII News ouviu as opiniões de especialistas no mercado que reforçaram a importância da presença de Fundos Imobiliários em carteiras que visam ganhos com dividendos

Os usuários de redes sociais que seguem influenciadores do mercado de Fundos Imobiliários acompanharam uma movimentação mais exaltada durante a semana após a reportagem publicada na segunda-feira (25) pelo jornal Valor Econômico sobre o megainvestidor brasileiro Luiz Barsi.
Na matéria com o título "Luiz Barsi, o megainvestidor que fez fortuna com dividendos", foram destacados alguns detalhes da vida de Barsi e do método de investimento adotado ao longo dos anos. A estratégia no mercado financeiro o tornou uma celebridade devido ao retorno que teria lhe rendido uma fortuna estimada em R$ 4 bilhões de reais. O principal fundamento defendido pelo investidor é uma carteira composta por ações de companhias boas pagadoras de dividendos.

Ainda na reportagem, Barsi é crítico da presença de Fundos Imobiliários em carteiras de investimentos, além não reconhecer a rentabilidade por meio de criptomoedas.
O Clube FII News, veículo de comunicação especializado no mercado FII, respeita as diferentes opiniões sobre os investimentos e procurou especialistas do mercado financeiro não com o intuito de reaquecer a polêmica, mas com o objetivo de dar voz a conceitos diferentes de rentabilidade.
Danilo Bastos, analista de FIIs da Ticker Research, se manifestou aos seguidores nas redes sociais contra a argumentação de Barsi e defende a correlação entre o IFIX – Índice de Fundos de Investimentos Imobiliários e o IDIV – Índice de Dividendos, ambos da B3.
O IDIV é o indicador do desempenho médio das cotações dos ativos que se destacaram em remuneração dos investidores sob a forma de dividendos e juros sobre o capital próprio.
“Quando comparamos índices que representam a média de mercado nos últimos 10 anos, temos um empate técnico, com leve vantagem para os FIIs. Portanto, se é possível construir patrimônio com um, é possível com o outro”, afirma Bastos.
O analista ainda destaca que a carteira do Barsi não é igual ao IDIV e a carteira de um investidor comum não é igual ao IFIX e nem ao IDIV.
“No entanto, os índices representam a média de mercado e a probabilidade de um cidadão comum ser um cara mediano é bem alta. O que vale é o retorno total que representa cotação somada a dividendos. Assim, as duas estratégias são válidas”.
Na opinião do analista Rodrigo Medeiros, fundador do Research DesmistificandoFII, os fundos de investimentos imobiliários permitiram profissionalizar e tornar mais eficiente o investimento imobiliário no país.
“O próprio projeto de lei que criou os FIIs afirma que eles seriam ‘instrumento de incremento para o setor da construção civil, de relevante importância na economia nacional’ e assim foi. Dizer que o instrumento é um ‘conto do vigário’ é dizer que ele é feito por vigaristas, remetendo a uma fraude, ignorando tudo que os fundos de investimentos imobiliários representam para a economia nacional e o PIB do país”.
Medeiros ainda afirma que os resultados apresentados pelos Fundos Imobiliários ao longo da história também demonstram que não são instrumentos com um viés de apenas para enriquecer gestores.
“Os Fundos Imobiliários se consolidaram como um importante investimento gerador de fluxo de caixa e capaz de proporcionar tranquilidade na aposentadoria do investidor, uma vez que no Brasil, as empresas de capital aberto ainda não possuem uma cultura de pagamento recorrente de dividendos como observamos nos EUA”.
O analista também ressalta que a fala de Barsi faz passar despercebida uma crítica importante sobre recomendações apaixonadas por uma classe de ativos.
“Defesas apaixonadas de qualquer classe de ativo, sejam FIIs, ações, ou qualquer investimento, impedem o investidor de observar os pontos positivos e negativos do investimento. Este discernimento é o que vai possibilitar a avaliação de quais ativos específicos são capazes de superar os desafios e gerar bons resultados, bem como quais investimentos são indicados para seu perfil como investidor”.
Rodrigo Cardoso de Castro, fundador e CEO do Clube FII, afirma que achou desnecessários os ataques pessoais feitos a Barsi por conta de suas opiniões.
“O fato dele possuir uma visão completamente distinta de nós, investidores de FIIs, não deveria ser motivo para desrespeitá-lo, como também o fato de respondermos sua crítica, não significa que o desrespeitamos”.
Na visão de Cardoso, é necessário o debate sobre ideias em vez de pessoas.
“O Sr. Luiz Barsi pode não gostar de Fundos Imobiliários, mas o motivo que ele alega não procede e não tem coerência com a perspectiva apresentada. Se aplicarmos os mesmos princípios de sua crítica no mercado acionário, também poderemos constatar os mesmos problemas que levaram à sua visão negativa sobre os Fundos Imobiliários”.
O especialista defende que uma ação não possui taxa de administração, mas ‘carrega’ pagamentos de salários e bônus dos C Levels, diretoria e de todos os colaboradores que são despesas da companhia e irão reduzir a distribuição de dividendos aos acionistas, tal como uma taxa de administração de um FII.
“Também teria cautela ao demonizar inteiramente uma classe de produto financeiro por conta de um ou outro Fundo Imobiliário que possa ter exageros em suas taxas de gestão. Se fosse fazer isso, seria bem mais fácil condenar o mercado acionário todo, já que existe histórico de inúmeras empresas negociadas na bolsa envolvidas nos mais diversos tipos de fraudes e crimes”.
Cardoso ainda menciona o caso de empresas estatais que têm as políticas de preços dos produtos completamente alteradas por causa de interesses de políticos populistas, o que afeta diretamente os investidores.
“Mas é evidente que isso não é regra e o mercado acionário tem empresas boas. O mesmo vale para os Fundos Imobiliários”.
Outro argumento é o exemplo do índice IFIX dos Fundos Imobiliários superar a bolsa, se considerado todo o período de existência dos indicadores em uma performance que não é exclusiva do Brasil.
“O índice dos REITs - os chamados ‘FIIs americanos’ - opera desde a década de 1960 com desempenho acima do índice S&P com folga em qualquer janela de 20 anos. Ainda assim, eu não diria que o mercado de FIIs é melhor ou pior do que o mercado acionário. São mercados diferentes, onde cada um possui suas características, riscos distintos e ambos carregam ativos bons e ruins”.
O economista Charles Mendlowicz, popular nas redes sociais como o 'Economista Sincero', diz que respeita a opinião e a estratégia do Barsi que têm se mostrado vencedoras nos últimos anos.
"Ele basicamente concentra os seus investimentos em boas ações pagadoras de dividendos e, muitas delas, com potencial de alta. Dentro desse modelo, realmente não cabem os Fundos Imobiliários. Já no meu caso, opto por investir tanto em ações pagadoras de dividendos, quanto em Fundos Imobiliários, acreditando que, no longo prazo, eu terei a correção da inflação, dividendos mensais e uma valorização extra, já que imóveis em boas regiões estão ficando a cada dia mais escassos".
Mendlowicz ainda destaca a diversificação de segmentos dentro dos FIIS, incluindo logística, shoppings e, agora, o setor agro.
"O que podemos perceber é que, mais importante do que escolher o ativo x ou o y, é ter uma estratégia de investimentos que faça sentido e que não te traga o risco da ruína. Atualmente não imagino a minha carteira sem Fundos Imobiliários".
Artur Losnak, CFA Head de FIIs no TC, lembra uma outra polêmica em que Barsi e a filha, Louise Barsi, compararam os FIIs a salsichas que ninguém sabe o que tem dentro.
"Lembro que, uma semana depois desse comentário, surgiu uma fraude de R$ 1 bilhão na Via Varejo. Realmente, o arcabouço regulatório de Fundos Imobiliários é muito mais forte e robusto do que para as ações. Nos FIIs, a gente tem relatório gerencial todo mês, informes mensais e, com isso, um acompanhamento muito mais próximo do dinheiro alocado".
Losnak destaca também que o gestor de FII é obrigado a devolver 95% do dinheiro gerado todo semestre.
"Não sobra muito dinheiro e espaço, para fazer maluquice", afirma.
De maneira geral, o analista acredita que os Fundos Imobiliários são muito mais defensivos do que as ações.
"Acho errado essa coisa de nós contra eles e um contra o outro. É possível ter um portfólio para gerar valor tanto com ações, quanto com Fundos Imobiliários".
Luiz Barsi foi procurado pela reportagem do Clube FII News por meio de sua filha, mas não houve resposta até o momento.