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    Entenda os riscos dentro dos Fiagros

    Analistas da agência S&P Global falaram ao Clube FII News sobre relatório que mostra possíveis fatores de estresse nos ativos que compõem os - cada dia mais populares- fundos ligados ao agronegócio

    Por Luciene Miranda
    quinta-feira, 30 de junho de 2022 Atualizado

    A euforia com o crescimento de 91% do número de investidores em Fundos de Investimentos das Cadeias Produtivas do Agronegócio (Fiagro) para um total de 58.700 de janeiro a maio encontrou, em junho, o primeiro grande alerta em relação aos riscos presentes no agronegócio.

     

    O Fundo Imobiliário BTG Pactual Terras Agrícolas (BTRA11) anunciou um processo de recuperação judicial envolvendo um dos seus inquilinos, um produtor rural de terras compradas para o portfólio do FII no estado do Mato Grosso.

     

    Entenda os riscos dentro dos Fiagros

     

    A notícia causou pânico entre os investidores e alguns comunicados da gestora do fundo sobre os planos para a solução do estresse envolvendo os ativos do BTRA11.

     

    Dias depois, a agência de classificação de risco S&P Global divulgou um relatório sobre os riscos que envolvem os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) e os Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDCs), títulos com grande presença nas carteiras dos Fiagros.

     

    O alerta trazido pelo relatório ‘Carta de Riscos: CRAs e FIDCs do Agronegócio’ vai além dos riscos de crédito das propriedades rurais.

     

    Os analistas Victor Nomiyama e Leandro Albuquerque apontaram vários problemas que podem acometer o portfólio da maioria dos Fiagros do mercado.

     

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    Entre agosto de 2021 e maio de 2022, houve 22 emissões desses fundos, que totalizaram R$ 3,6 bilhões. Cada fundo com uma quantidade já robusta de CRAs compondo as carteiras.

     

    De janeiro a maio, o volume de emissões de CRAs no país saltou 49%. No entanto, a S&P Global joga luz nos fatores de risco que também se ampliaram e ameaçam a continuidade do ritmo desse crescimento.

     

    O estudo da agência teve como base 12 CRAs avaliados, entre eles, os que financiaram projetos do agronegócio para empresas como a Vamos, do setor de locação de caminhões e máquinas, a Madero, do ramo de restaurantes e a Tereos, de produção de açúcar e etanol.

     

    Os maiores riscos estão com as medidas restritivas na China para conter a Covid-19, a inflação global persistente, a elevação dos preços internacionais do petróleo e do gás natural, além do período prolongado do conflito entre a Rússia e a Ucrânia.

     

     

    Riscos diferentes relacionados a cada cultura 

     

    O relatório destacou os fatores climáticos que trazem o risco de quebras de safras relevantes, em especial, da soja no sul do Brasil e da cana-de-açúcar na safra 2021/2022.

     

    Outro ponto de atenção citado no relatório é com a concentração dos CRAs em poucos segmentos, principalmente, no setor sucroalcooleiro. Há concentração também de emissões para o financiamento da produção de soja e milho, e ainda no segmento de proteína animal de bovinos, suínos e aves.

     

    “No relatório, colocamos a nossa realidade de distribuição de ratings – nota de crédito – em que os setores sucroalcooleiro e de proteínas têm uma representatividade maior nos novos lançamentos. Mas, em geral, a pecuária pode superar a indústria de açúcar e cana nas emissões”, explica Victor Nomiyama.

     

    Já na produção brasileira de grãos, os maiores riscos verificados pela S&P Global são o clima e a elevação dos preços de adubos e fertilizantes como consequência do conflito entre Rússia e Ucrânia.

     

    A guerra também trouxe choque de oferta de commodities, com forte impacto em economias mais vulneráveis, como a do Brasil, num momento em que o país vinha em recuperação lenta dos efeitos da pandemia.  

     

    Como consequência, no setor de proteínas, o repasse de preços no mercado doméstico tem sido ainda mais difícil para os produtores em comparação com as exportações, que têm apresentado melhor desempenho.

     

    Isso acontece porque as exportações dão ao produtor maior flexibilidade, de acordo com Flavia Bedran, Diretora para Agro na S&P Global.

     

    “A gente viu carne, por exemplo, por vários motivos, com preço muito alto no passado. Chegou uma hora que o mercado interno parou de absorver. O consumo de carne bovina caiu muito no ano passado, aumentando para substitutos como frango e porco”.

     

    No segmento sucroalcooleiro, a guerra na Ucrânia também pode ter impacto na produtividade, com o aumento nos preços de fertilizantes, diesel e equipamentos. No entanto, os preços altos das commodities atribuem resiliência ao setor. A elevada cotação internacional do petróleo deve sustentar o preço do etanol por conta da política de paridade.

     

     

    Riscos de financiamento e governança do agro

     

    Os riscos de financiamento do agronegócio brasileiro vêm da demanda estimada em R$ 300 bilhões anuais, segundo o IBGE, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, que está restrita a poucos bancos e linhas de crédito de curto prazo, segundo a S&P Global.

     

    “Esta é apenas uma estimativa para o custeio agrícola, mas o agro em si tem um consumo de funding muito maior, com projeções até R$ 700 bilhões. O Fiagro ainda é um instrumento novo e está num ramp up - fase de início da produção de uma indústria. Não conseguimos precisar em quanto tempo estas operações supririam a demanda do agro”, afirma Nomiyama.

     

    Outra preocupação é que muitos Fiagros possuem carteiras concentradas em CRAs de emissores de pequeno porte. Caso do fundo BTRA11 em que 23% da receita é representada pelo ativo problemático no MT.

     

    As emissões também estão expostas ao risco de governança porque o controle de muitas empresas agro ainda é familiar em detrimento de modalidades de gestão mais profissionais.

     

    “Falamos das empresas familiares não como uma característica ruim, mas analisamos a estrutura de governança dessas empresas em questão de transparência, gestão e políticas praticadas. São fatores relevantes que compõem a análise do rating”, explica Nomiyama.

     

    Diante dos alertas, os analistas da S&P aconselham atenção a alguns fatores de CRAs diversificados e de FIDCs com lastro em ativos do agronegócio:

     

     

    • Análise do desempenho histórico do originador, que tem papel fundamental nas estruturas com monocedentes - empresas que cedem os recebíveis e vários investidores compram os títulos.

     

    • Cuidado com os chamados ‘eventos de diluição’, a exemplo da devolução de mercadorias por questões técnicas de produtos sujeitos à sazonalidade das safras.

     

    • Verificação do perfil de devedores porque carteiras de Fiagros pulverizadas, em geral, incluem o produtor rural pessoa física com ticket – média de vendas - elevado e diferentes níveis de formalização.

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