Cenário incerto exige cautela na condução da política monetária, reforça ata do Copom
Colegiado destacou que não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso entenda ser necessário

O cenário atual, marcado por elevada incerteza, requer cautela na condução da política monetária, reforçou a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta terça-feira (23). Na semana passada, o colegiado decidiu por manter a taxa básica de juros da economia brasileira (Selic) no patamar de 15%, por entender que a decisão está alinhada com a estratégia de convergência da inflação para a meta.
“O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso julgue apropriado”, alertou na ata apresentada hoje, reforçando posicionamento do comunicado da última quarta.
Juros elevados por longo período
Com expectativas desancoradas e um mercado de trabalho resiliente, apesar de certa moderação no crescimento, seria necessário adotar uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado.
“O cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho”, apontaram os membros do colegiado.
O tarifaço dos Estados Unidos foi mencionado novamente na ata, que apontou também a necessidade de monitoramento dos impactos da política fiscal doméstica e dos ativos financeiros, além da condução de políticas fiscal e monetária harmoniosas.

A ata não apresentou grandes mudanças em relação ao comunicado, mantendo o tom duro, na avaliação de Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, que estima Selic em 15% até meados de 2026.
“As falas firmes são observadas nas sinalizações de manutenção do juro por tempo suficientemente prolongado, com a possibilidade de retomada do ciclo de alta caso seja necessário, ainda que não seja o cenário base”, entende o especialista.
O documento indica que colegiado demonstra conforto com a política monetária em curso, enquanto ganha tempo para observar seus efeitos, segundo Marcela Kawauti, economista-chefe da Lifetime Gestora de Recursos.
“Se por um lado ainda há riscos inflacionários vindos principalmente da pressão de demanda, por outro, a alta de juros empreendida entre setembro do ano passado e a primeira metade deste ano já tem efeito sobre a economia”.