BODB11 – O FI-Infra resistente à aridez do mercado
Em momentos bons ou difíceis, o Bocaina Infra mantém pagamento de proventos aos cotistas e vem comprovando que merece o apelido de “Bodão”, inspirado no robusto mamífero das regiões secas do Brasil

O FI-Infra da Bocaina Capital caiu na boca do povo como Bodão não apenas pela semelhança do ticker BODB11 com o nome do animal resistente criado, principalmente, nas regiões mais secas do país.
A força do mamífero – mesmo nos rincões mais áridos do Brasil – pode ser comparada também à resiliência do Fundo de Investimento em Infraestrutura lançado em 2021, durante a pandemia.
“Se a gente soubesse que surgiria esse apelido, teria criado logo o ticker de BODE11”, brinca Gabriel Esteca, cofundador do Bocaina Capital e responsável pelo investimento em infraestrutura.

"O fundo gerou resultados bem resilientes nos seus primeiros 12 meses de existência, apesar do contexto desafiador de mercado: a rentabilidade patrimonial obtida de 4,7% acima da NTN-B é bastante superior ao objetivo de rentabilidade do fundo, de 1,5% a 2,5% sobre esta mesma referência. Os ativos do portfólio atual também apresentam taxas robustas neste começo de ano, equivalentes a IPCA+8.3% líquido de taxas e imposto de renda para pessoa física”, explica Esteca.
Embora a oferta inicial de cotas tivesse um objetivo de volume maior, os R$ 70 milhões captados em dezembro de 2021 junto a 1.400 investidores no IPO – sigla em inglês para oferta pública inicial - do fundo foram muito celebrados, dado o contexto desafiador daquele ano. Em 2022 o fundo realizou Follow-on e hoje possui R$ 120 milhões de patrimônio, com mais de 4.200 cotistas.
“A gente começou com uma oferta ampla, com o fundo voltado para o público em geral. Os fundos de infra existentes até aquele momento eram voltados para investidores qualificados apenas. Fomos uma das únicas gestoras independentes que conseguiu fazer uma oferta naquele momento, muito por conta dessa nossa preocupação de ir atrás e falar com investidores e assessores. Notamos um interesse muito grande pela forma de funcionamento de Fundos Imobiliários e buscamos desenhar as características do nosso FI-Infra com isso em mente”, lembra.
O FI-Infra BODB11 vinha com uma novidade: o pagamento de dividendos mensais aos cotistas, como ocorre com os Fundos Imobiliários, em vez das distribuições semestrais esperadas dos fundos voltados para infraestrutura que já eram negociados no mercado.
Embora tais pagamentos sejam em regime de melhores esforços, o fundo distribuiu rendimentos desde o primeiro mês de operação. Além disso, os valores pagos mensalmente incluíram o componente IPCA, e não apenas o cupom das debêntures.
O pagamento de dividendos mensais serviu como um incentivo a mais para os investidores, além da isenção de Imposto de Renda e, sobretudo, do benefício de se investir em projetos de infraestrutura no país: ao mesmo tempo que o investidor aplica o dinheiro no fundo para obter rendimento, auxilia no desenvolvimento de diferentes setores da economia brasileira.
Os dividendos mensais do Bocaina Infra aos cotistas
Os dividendos do BODB11 têm base na inflação medida pelo IPCA do mês somada a um percentual que é o cupom ou yield das debêntures do portfólio. Também são distribuídos eventuais ganhos adicionais obtidos pelo fundo.
Os pagamentos estão regulares desde o início do FI-Infra, inclusive durante os três meses de deflação em 2022, quando a distribuição teve um pequeno recuo, mas ainda assim caiu na conta dos cotistas.
“No começo do ano passado, a gente tinha uma inflação muito pujante que levou a distribuições robustas. No segundo semestre, veio o período de deflação, porém conseguimos defender bem os pagamentos, capturando ganhos com a troca de algumas debêntures investidas. Também havíamos acabado de fazer um follow on – nova oferta de cotas após a primeira de lançamento do fundo - e temporariamente mantivemos os recursos captados em investimentos pós-fixados a juros nominais”.
Terminal Portuário Santa Catarina (TESC): silos de grãos e esteira para carregamento de navios foram construídos com os recursos de debêntures incentivadas adquiridas pelo BODB11 (Foto: Divulgação - TESC)
De R$ 0,135 por cota em julho, o dividendo foi para R$ 0,10 em agosto e em setembro. Em outubro, o valor subiu para R$ 0,105, voltando em novembro a R$ 0,15 e, em dezembro, a R$ 0,12. A última distribuição do fundo referente a janeiro foi de R$ 0,13, equivalente a 18% de yield anualizado.
“O BODB11 é um fundo que tem como objetivo de rentabilidade entregar 1,5% a 2,5% acima da NTN-B de duration equivalente ao portfólio – medida de prazo ponderado pelos fluxos dos títulos – já líquido de taxas e de IR ao cotista pessoa física. Considerando uma NTN-B com taxa aproximada de IPCA+6,5% como vemos agora, este objetivo representa IPCA+8%”, afirma Esteca.
Atualmente, o valor patrimonial da cota do BODB11 – referente aos ativos na carteira do fundo – é de aproximadamente R$ 9,39, em linha com o valor de mercado – relativo às cotas negociadas na B3 – de R$ 9,45, conforme as informações obtidas durante a elaboração desta reportagem.
Os ativos da carteira
O portfólio do FI-Infra Bocaina possui debêntures incentivadas, que recebem esse nome por serem títulos de dívidas emitidos por empresas do setor de infraestrutura que contam com o benefício fiscal de isenção de Imposto de Renda para o investidor pessoa física.
Esta isenção de IR é uma concessão dada pelo governo, justamente para incentivar os investimentos em projetos que promovam o desenvolvimento do país com forte componente de geração de empregos.
E os setores presentes na carteira de ativos do Bodão são bem variados: terminal portuário, usinas de geração de energia solar, telecomunicações, transportes, exploração e produção de petróleo e gás, além de rodovias.
Antes e depois de trecho da MT-130 sob concessão para a Concessionária Rota dos Grãos, emissora de debêntures incentivadas que fazem parte do portfólio do BODB11. A rodovia é estratégica para o escoamento até o Terminal de Rondonópolis da Rumo (Fotos: SINFRA-MT – Visita técnica)
“Debêntures incentivadas são um tipo de ativo de crédito que tende a apresentar um perfil de risco mais controlado quando comparado a um CRI – Certificado de Recebíveis Imobiliários, CRA – Certificado de Recebíveis do Agronegócio, e até mesmo a uma debênture regular porque concessões no setor de infraestrutura são, em geral, definidas em termos monopolistas”.
Um exemplo dado por Esteca é uma concessionária de saneamento básico em um município onde não há outras empresas explorando o serviço de fornecimento de água e coleta de efluentes na mesma região além do emissor da debênture. O mesmo ocorre com linhas de transmissão, parques solares e outros setores.
Ao mesmo tempo, os termos das concessões são bem definidos, exigindo investimentos e qualidade de serviço de operação por um lado e fixando tarifas de uso por outro, geralmente indexadas à inflação. Isto gera projetos de exploração econômica de longo prazo e que costumam durar décadas.
“Isso é definido em contrato de longo prazo porque os investimentos são vultuosos. O retorno vem em prazos longos. O conhecimento prévio das tarifas e custos permite que as dívidas de infraestrutura também tenham prazos longos e, como consequência, maior precisão no fluxo de caixa”.
A busca da equipe da Bocaina é por ativos que pagam um prêmio maior, ou seja, que oferecem mais rentabilidade do que a média do mercado, o que Esteca classifica como ‘capturar prêmios mais robustos de mercado primário’.
“Procuramos capitalizar nossa capacidade técnica e profundidade em infraestrutura buscando emissões de projetos no mercado primário - em diversos casos de originação proprietária - para capturar maior prêmio para os cotistas”.
Como a equipe Bocaina reduz riscos da carteira do BODB11
O desafio de um portfólio como o do Bocaina FI-Infra é a diferença regulatória entre os ativos de setores variados da economia.
O conhecimento profundo das regras do setor de cada debênture presente na carteira é fundamental para o controle e redução dos riscos.
“O arcabouço regulatório de uma empresa de saneamento é diferente de uma empresa de energia, que é bem diferente de transportes rodoviários. O risco presente na concessão de saneamento de um município do Rio Grande do Sul é bem diferente de um parque solar no Nordeste, que é totalmente diferente de uma rodovia no Centro-Oeste. Isto faz com que a diversificação de risco seja robusta, ainda que sejam todas emissões dentro do conceito de infraestrutura”.
Subestação em construção do projeto solar fotovoltaico de Santa Luzia, do grupo Rio Alto, emissor de debêntures incentivadas que fazem parte do portfólio do BODB11. (Fotos: Rio Alto – Divulgação)
A estratégia encontrada pela gestora Bocaina foi montar uma equipe multidisciplinar trazida de departamentos especializados em infraestrutura de grandes instituições financeiras.
“A gente procura investir no mercado primário que oferece as taxas mais atrativas, mas antes faz uma análise profunda do projeto em si. É só isso que a gente faz na Bocaina Capital: crédito para infraestrutura, viabilizando investimento em ativos que não seriam de fácil acesso para o investidor de varejo sem a nossa atuação”.
Além da equipe, a gestora também contrata especialistas independentes – engenheiros, consultores e advogados - para as análises necessárias em debêntures incentivadas que são estruturadas dentro do próprio escritório e que também vêm do mercado.
“Há pouco material acadêmico sobre a estruturação de projetos e capital para os setores de infraestrutura, principalmente com as especificidades do Brasil. Por isso, a importância de um time próprio de profissionais que são egressos das áreas de M&A e Project Finance de instituições financeiras e de empresas atuantes no setor que conhecem a fundo os detalhes e perfil de risco deste tipo de estruturação”.
O ESG dos projetos da carteira do BODB11
Para o desenvolvimento da política ESG – sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança – do FI-Infra BODB11, a Bocaina contratou uma empresa de consultoria especializada, a Nint.
“É a principal consultoria ESG da América Latina que já presta serviços para outras instituições do mercado financeiro e eu já conheço de longa data, desde quando trabalhava no Santander. As análises de risco e impacto socioambientais são sempre relevantes dentro dos projetos de infraestrutura”, afirma Esteca.
Ele cita possíveis impactos positivos em projetos grandes como saneamento básico para toda uma população, como também os riscos de consequências negativas a exemplo de desapropriações e falta de cuidado com comunidades e povos originários.
“Há muitos fatores que entram nas discussões de projetos de infraestrutura. Por isso, o nosso processo de ESG é integrado ao de investimento, inclusive como filtro de exclusão. Os aspectos ESG também podem ser motivo de veto em comitê. Existem coisas que a gente não faz como, por exemplo, financiar um projeto de térmica a carvão. Já não passa no filtro da primeira etapa do processo”.
Na visão de Esteca, nenhum projeto é isento de impactos, mas é possível tratá-los de maneira correta, humana e séria.
“A gente se atém também aos aspectos de governança dos projetos e ao investimento em empresas sérias. Estimulamos as empresas a terem selo sustentável, uma rotulagem dada por consultorias especializadas para este fim. Assim, incentivamos o emissor a práticas mais padronizadas de mercado e favoráveis aos aspectos ESG”.
O que esperar do Bodão em 2023
Gabriel Esteca tem como principal plano para este ano continuar entregando uma boa rentabilidade ajustada a risco para o BODB11.
Ele afirma que a rentabilidade do fundo nos seus primeiros 12 meses de existência – de 4,7% acima da NTN-B – é bastante superior ao objetivo de rentabilidade do fundo, de 1,5% a 2,5%.
Ainda segundo Esteca, o início de 2023 se mostra um momento muito bom para investir em FI-Infra devido ao nível atual da curva de juros reais, próximo das máximas históricas. Isto faz com que as debêntures incentivadas que compõem o portfólio dos FI-Infra estejam também com taxas atrativas, permitindo um ‘carrego’ robusto.
“O BODB11 hoje apresenta um carrego de IPCA+8,3% líquido de taxas e imposto de renda para a pessoa física”, explica.
Adicionalmente, o nível de taxas atuais permite um potencial ganho de capital no futuro, no caso da curva de juros reais recuar para patamares menores.
"Os FI-Infra são ótimos veículos para capturar ganhos de capital, uma vez que sua isenção de imposto de renda para pessoa física é ampla, contemplando tanto rendimentos como ganhos de capital. Neste sentido, a isenção é ainda maior se for comparada aos Fundos Imobiliários que taxam em 20% os ganhos de capital”.
Além do foco em rentabilidade, um dos desejos do gestor é que o fundo cresça. Para isso, aguarda uma ‘janela de oportunidade’ para uma nova emissão de cotas e, desta forma, captar recursos necessários ao aumento da quantidade de ativos na carteira do BODB11.
“A gente tem hoje um patrimônio líquido de aproximadamente R$ 120 milhões no veículo. A partir de um PL de R$ 300 milhões ou R$ 400 milhões, você começa a ter valores absolutos de negociação mais robustos e que dão mais conforto aos investidores. Estamos sempre monitorando o mercado e avaliando momentos favoráveis para seguir nosso plano de crescimento, como fizemos no ano passado”, conclui.