FIIs chegam a 2,9 milhões de investidores em ano mais lento
Queda no ADTV e esfriamento do crescimento apontam impacto direto dos juros altos e da incerteza fiscal
O mercado de Fils atingiu o número recorde de 2,9 milhões de investidores. Segundo a Report Anual de Fils da B3, há um crescimento expressivo no número de investidores desde 2020 — e, nesse período, não foram registradas quedas. Apenas em 2025, a quantidade de pessoas investindo cresceu 3,6%.
Houve também um avanço contínuo ao longo dos anos no estoque dos Fils. Em 2025, ocorreu uma expansão de 9,6%, indicando novas emissões e valorização. O estoque reflete a expansão estrutural do mercado, com crescimento mesmo em anos de adversidade econômica.
Porém, nem tudo foram flores. Os números seguem positivos, mas já demonstram sinais de desaceleração. Como é possível observar no gráfico, o crescimento no número de investidores começou a "esfriar" a partir de 2023, caindo de uma expansão anual de 25% para 12% e, em 2025, para apenas 3,6%.

Por: Siila
Outro ponto de atenção é o Volume Diário Médio Negociado (ADTV), que diminuiu em 2025. Neste ano, foram R$ 316 milhões, ante R$ 353 milhões em 2024.

Por: Siila
Razões
O principal fator por trás desse movimento é a economia - mais precisamente, o nível ainda elevado da taxa de juros. Segundo o relatório Onde Investir 2026, da XP, divulgado nesta segunda-feira (08), embora a inflação tenha surpreendido positivamente em 2025, o Banco Central manteve a Selic em um patamar alto por boa parte do ano, reduzindo a atratividade dos ativos de renda variável. Isso diminuiu o apetite por parte de novos investidores e esfriou a liquidez do mercado.
A XP destaca que o ambiente macroeconômico ainda carregava resquícios do ciclo de aperto monetário iniciado anos antes. Com a renda fixa pagando prêmios elevados, muitos potenciais entrantes adiaram a migração para produtos como Fils, contribuindo para a desaceleração observada no número de investidores.
Além disso, o relatório aponta que a combinação de juros altos e incerteza fiscal também afetou a dinâmica de negociações. Em 2025, o mercado operou em compasso de espera, enquanto investidores aguardavam sinais mais claros sobre reformas, trajetória de despesas públicas e o início efetivo do ciclo de cortes da Selic. Esse cenário de cautela se refletiu diretamente no ADTV, que recuou após um forte avanço em 2024.
Outro fator citado pela XP é a pressão sobre os preços dos ativos imobiliários decorrente da marcação a mercado dos títulos públicos, especialmente as NTN-Bs. Com juros elevados, o valor patrimonial de muitos Flls ficou comprimido - o que, embora tenha criado descontos atrativos, reduziu o giro no curto prazo, já que investidores institucionais e pessoas físicas preferiram aguardar uma melhora das condições monetárias.
Apesar disso, o relatório reforça que o cenário começa a virar. A inflação mais controlada, aliada à perspectiva de cortes graduais de juros em 2026, abre espaço para a recuperação da liquidez e para um novo ciclo de valorização do mercado. Para a XP, 2025 foi um ano de transição: menos exuberante, mais cauteloso - mas com bases sólidas para que o setor volte a acelerar nos próximos trimestres.