Behavior Gap: O erro que faz investidor perder dinheiro
Sócio-fundador do Clube FII explica por que o retorno do investidor é frequentemente menor que o do próprio ativo
O que explica o fato de tantos investidores perderem dinheiro mesmo quando aplicam em ativos que apresentaram bom desempenho? A resposta pode estar no conceito de “Behavior Gap”, ou a lacuna comportamental entre o retorno de um investimento e o ganho que o investidor de fato obtém. Em análise sobre o tema, Rodrigo Cardoso de Castro, sócio fundador do Clube FII, detalha como as decisões emocionais sabotam os resultados no mercado financeiro. Você pode assistir ao vídeo completo disponível no canal do Clube FII no YouTube clicando aqui.
O termo, popularizado pelo planejador financeiro americano Carl Richards, descreve um erro clássico: comprar ativos na euforia do mercado e vendê-los quando o medo se instala. Segundo Cardoso, essa atitude faz com que o investidor saia no zero a zero ou até com prejuízo. Um exemplo histórico é o fundo Fidelity Magellan, gerido por Peter Lynch, que entregou um retorno espetacular de 29% ao ano entre 1970 e 1990. No entanto, relatórios internos e o próprio Lynch revelaram que a maioria dos cotistas ganhou pouco ou quase nada, pois entravam após os anos de alta e saíam durante as quedas. "Eles entravam no fundo depois dos anos de alta, ou seja, na euforia, e resgatavam nos anos ruins".
No mercado brasileiro de fundos imobiliários (FIIs), a história se repete. Cardoso cita o pânico que tomou o mercado em dezembro de 2024, provocando uma onda de vendas. “Ironicamente, foi exatamente ali que surgiram as melhores oportunidades da história recente do nosso mercado”, afirma. Após aquele momento, o IFIX se recuperou, registrando uma alta de mais de 24% até outubro de 2025, superando o CDI e o Ibovespa. Você pode analisar a performance histórica e comparar o retorno de diferentes fundos em períodos como este. O Clube FII oferece acesso a essa análise completa no menu Comparativo de Ativos. Quem ignorou o pessimismo e focou nos fundamentos colheu os frutos, enquanto o número de investidores no mercado registrava sua primeira queda em quase 10 anos.
Cardoso aponta três principais razões para esse comportamento prejudicial. A primeira é a facilidade de negociação, que elimina a burocracia, mas também a reflexão. A segunda é o excesso de informação e ruído das redes sociais, com notícias sensacionalistas e “carteiras da semana” que levam a decisões por impulso. Por fim, o “catastrofismo cíclico” da política brasileira, que afasta investidores dos ciclos de alta. Como reflexo, o tempo médio de manutenção de uma ação na Bolsa de Nova York caiu de 8 anos na década de 60 para menos de 6 meses atualmente. "Nunca se trocou tanto de posição em tão pouco tempo. E o curioso é que isso não aconteceu porque as empresas ficaram piores, mas porque ficamos mais impacientes com tanto excesso de informação".
Para o especialista, a solução é a disciplina. No caso dos FIIs, essa disciplina é facilitada por sua natureza tangível. Uma queda na cotação não significa que o imóvel foi destruído. Usando o Google Street View para mostrar a rotatividade de lojas na Rua Visconde de Pirajá, no Rio de Janeiro, ao longo dos anos, ele ilustra que a vacância é um processo natural. “Será que o proprietário vendeu este imóvel a qualquer preço porque perdeu o inquilino? Evidentemente que não”, compara, criticando a atitude de investidores de FIIs que vendem cotas com grande desconto em situações semelhantes.
O maior desafio do investidor, portanto, não é escolher o ativo, mas manter a disciplina para não seguir o comportamento de manada. “Enquanto alguns se desesperam com quedas momentâneas, outros enxergam oportunidades. O mesmo gráfico, o mesmo preço, mas duas psicologias completamente diferentes”, conclui Cardoso. Ele reforça que o foco em qualidade, aportes constantes e um horizonte de longo prazo são as chaves para construir patrimônio.