O agro que encanta a indústria de fundos
Ricardo Prado, sócio e fundador da consultoria Chrimata que se aliou à Vinci Partners para lançar o Fiagro VICA11, falou sobre o potencial do setor e como a criação do fundo superou expectativas

O agronegócio brasileiro demanda muitos recursos, mas historicamente sempre contou com limitadas fontes de crédito, sejam oficiais ou por instituições financeiras.
O setor também tem representatividade crescente na economia nacional e respondeu, em 2021, por 27,4% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.

A necessidade de crédito somada à relevância do agro na economia são os pilares para o rápido crescimento do número de investidores que chegam aos recém-regulados Fiagros, os Fundos de Investimentos nas Cadeias Produtivas Agroindustriais, na opinião de Ricardo Prado, sócio e co-fundador da consultoria especializada Chrimata.
Segundo os últimos dados divulgados pela B3, a bolsa brasileira, os Fiagros atingiram 80.300 investidores em julho, o que representa um crescimento de 15,7% na comparação com o mês anterior.
Juntos, Prado e Rodrigo Kuchauskas, sócio e co-fundador da empresa, celebram o sucesso do lançamento do VICA11, o Fiagro criado por meio de uma joint venture - uma espécie de consórcio - com a Vinci Partners.
A captação alcançou o valor máximo esperado de R$ 360 milhões com cada cota a R$ 10,00.
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O fundo agora conta com 12 mil investidores que entraram, cada um, com pelo menos R$ 10 mil de investimento que era o mínimo para a participação na oferta.
“O perfil do investidor é aquele que busca renda. Então, adaptamos as operações para um pagamento antecipado de juros para que o fundo possa fazer a distribuição mensal e não esperar um ano para distribuir. Foi uma readequação de fluxo de caixa”, explica.
O VICA11 ainda não está listado na B3 e, pela legislação dos Fiagros, teria até cinco anos para ingressar na bolsa de valores. Mas a ideia, segundo Prado, é antecipar o ingresso das cotas no pregão diário.
Por enquanto, o fundo está apenas no mercado de balcão - fora de bolsa de valores - regulado pela CETIP, a Central de Custódia e Liquidação Financeira de Títulos.
“A ideia é que, em um momento com menos volatilidade, a gente liste o fundo. O objetivo de sair com esse modelo de ‘fundo cetipado’ foi tentar diminuir a oscilação da cota, o que a maioria dos fundos listados experimentou nos últimos meses”.
Cerca de 15 operações devem compor a carteira do Fiagro com foco em terras como garantia com lavouras de soja, milho, algodão, café e cana-de-açúcar.
“O nosso alvo é o Centro-oeste, naturalmente muito concentrado no Mato Grosso, e também a região do Matopiba, que é a confluência dos estados do Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia por causa da regularidade climática maior que na região Sul. A gente também não está falando de agricultura familiar. O foco do VICA é nos produtores maiores que têm o perfil corporativo”.
Agro brasileiro: mar de oportunidades de financiamento
Assim Ricardo Prado classificou o mercado de Fiagros.
Para isso, ele usa como fundamento o que representa o financiamento oficial conhecido como Plano Safra ao agronegócio brasileiro.
“Você tem um gap – lacuna em inglês - de R$ 650 bilhões por ano. O que o Plano Safra cobre, você precisa de duas ou três vezes isso para financiar o custeio de uma única safra”.
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O especialista explica que, sem financiamento do valor necessário, o produtor rural costuma buscar complementos nos recursos que sobraram da safra anterior, além de recorrer a capital de empresas de trading que adiantam dinheiro mediante a promessa de entrega de parte da produção.
“Há ainda os bancos, mas com uma atuação muito limitada. Por isso, os produtores estão sempre pressionados por recursos, ainda mais com o crescimento que temos observado do agro do país”.
Por outro lado, a atratividade dos Fiagros também revela os retornos oferecidos aos investidores acima de outras aplicações.
Trata-se de uma forma de compensar os cotistas em relação aos riscos envolvidos no setor que podem ser de clima, pragas ou de mercado.
Por estes mesmos riscos, o produtor cobra uma margem boa nos produtos e, por isso, aceita pagar um pouco mais de prêmio ao investidor.
“O produtor não tem tanto acesso ao mercado financeiro. Aquele que tem, paga um pouco mais. Na ótica dele, o capital é um ativo muito restrito. Ele aguenta pagar juros maiores do que um setor ou outro da economia mais urbano porque, se não conseguir aquele recurso, ele terá que se amarrar de alguma forma com a trading. Esta dependência não é algo desejável”.
No caso do VICA11, as operações que vão compor o portfólio estão em fase de estruturação, mas já têm meta de rendimento médio.
“O objetivo é que a gente tenha um yield médio pago pelo produtor de CDI + 6% que vai representar para o cotista CDI + 4,4% líquidos, de acordo com nosso estudo de viabilidade”.
Agro brasileiro: potencial que rema contra a maré
Na visão de Ricardo Prado, o agronegócio no Brasil é um setor muito perene e com um crescimento que acompanha o aumento da população global.
O especialista explica que, quando se estuda a disponibilidade de terras para a produção de alimentos para uma população maior, só há duas grandes regiões do mundo que são a América do Sul e a África.
“A África tem todos os problemas geopolíticos onde muitas áreas com terras férteis são trancadas no meio do continente sem ter acesso ao mar, além dos problemas políticos em lidar com o exterior”.
Em contrapartida, o Brasil se destaca no agronegócio mesmo com os gargalos logísticos, segundo Prado.
“Eu já não chamo mais de capenga, mas a estrutura logística aqui é muito inferior à dos Estados Unidos, onde a cada 100 km há um terminal de transbordo de grãos na região do meio oeste. Aqui, são 2.000 km para ter um porto. É desafiador. Ainda assim, o Brasil é o maior exportador de soja, café e açúcar, além de ser o segundo ou terceiro de milho e de algodão”, conclui.